"And now for something completely different..."

domingo, 3 de janeiro de 2021

O Pesadelo do Hotel

Olha, esse tá de parabéns! Foi um pesadelo roteirizado e detalhado que me deixou tremendo na base quando finalmente consegui acordar. Daria um filmaço! O quê é estranho porque eu não assisto nenhum filme ou nada de terror tem um bom tempo já, tem um ou dois anos provavelmente. Ótima maneira de começar o ano com o pé direito!

Como o sonho foi muito longo pra eu contar pras pessoas por mensagem, decidi escrever ele aqui e quando precisar mando o link. -q

O filme sonho começa comigo no carro dos meus pais, na estrada. Atualmente meu pai só tem kombis (3 delas, não me perguntem o porquê), mas ele já teve uma Blazer antes, e acho que era este o veículo em que dirigia desta vez. Estávamos procurando uma praia, bem isolada, que havíamos visto num anúncio. Minha mãe tinha o folheto em mãos, e tentava nos guiar até o local, mas não estava funcionando muito bem, e eles mais discutiam do que outra coisa. O anúncio era como se fosse um prêmio, ou sorteio, e dizia algo do tipo: "Parabéns! Vocês ganharam X dias de estadia no Hotel Y. Ele fica no local Z, venham desfrutar de nossa belíssima praia particular, exclusiva dos nossos clientes!"

A foto era de um prédio antigo, de cor avermelhada ou rubra, e era bem alto, tipo mais de 20 andares, com vista para uma praia paradisíaca. Parecia o tipo de prédio alto e antigo que você só encontra em Nova Iorque, ou no centro antigo de São Paulo.

Meu pai dirigia por uma estrada bem fechada com mato dos dois lados, que parecia não levar à lugar nenhum. Por fim, chegamos à um acostamento, daqueles maiorzinhos onde dá para parar o carro e observar a paisagem, e que supostamente deveria ser o local correto, mas não havia nada além de árvores à vista. Estacionamos o carro ali e paramos para pensar e esticar as pernas. 

Enquanto meus pais discutiam sobre o caminho certo, ou sobre como deveria ser ali de acordo com o mapa, eu comecei a ouvir barulho de água. Subi numa espécie de banco de pedra que tinha ao longo do acostamento e notei que o barulho não era do mar, mas de um córrego canalizado que corria logo ao lado do banco. As paredes laterais do córrego eram de pedra também, e tinham algumas vigas para atravessar de um lado para o outro, tal qual um córrego que corre próximo à onde estudei em Santo André.

Tipo isso, só que no meio do mato ao lado da estrada.

Do outro lado do córrego, porém, consegui avistar o tal prédio do hotel, e a luz do mar. Ou melhor dizendo, a luz do Sol refletida no mar. 

Logo avisei meus pais que conseguia ver o hotel, e notamos que no ponto mais curto, o córrego deveria ter menos de 2 metros para atravessar por uma das vigas. Deixamos o carro estacionado no acostamento e decidimos atravessar. Neste momento, surgiu uma outra família, também estacionando no acostamento, e procurando o mesmo hotel, com o mesmo anúncio em mãos. Eram um casal com uma criança de uns 4 anos de idade, crescida o suficiente para andar sozinha, mas não muito bem, e nem falar muito bem também.

Falamos do córrego e do hotel do outro lado, e avisamos para atravessarem com a criança em colo. Após todos atravessarem o córrego sem maiores problemas, andamos um pouco pelo mato até que saímos diretamente... Numa praia. Não era A praia que imaginávamos, e definitivamente não era paradisíaca. Era minúscula, tipo um quintal de fundo. Não achei uma imagem de uma praia tão pequena, então segue a imagem da menor praia que consegui achar, e um boneco de referência para fazê-la parecer menor.

Tipo isso, no meio do mato assim, mas com o prédio do hotel logo atrás da pessoinha.

Notava-se que os degraus do saguão do hotel davam direto para a areia da praia, e meus pais já foram entrando, sem comentar muito sobre aquela decepção de praia, para fazerem o check-in. Isso e meu pai também estava com pressa de perguntar sobre como chegar ali pela estrada, pois queria ir buscar o carro e trazer até o hotel, que supostamente teria uma entrada principal do lado oposto à da praia.

Eu porém fiquei para trás, pois enquanto entravam eu notei algo muito peculiar. Notei uma espécie de altar de pedra em um dos cantos da praia, como se fosse uma escultura de praça ou monumento, e fui investigar. Era um círculo de pedra no chão, alto o suficiente para se sentar e usar de banco, mas no centro dele havia uma lápide, ou uma placa de pedra que imitava uma lápide. Nela dizia: "Aqui jaz Phillip Toddler, o bebê maldito modificado."

... Ok? Não sabia exatamente o que o "modificado" queria dizer, mas conseguia imaginar. Vai ver ele nasceu monstruoso, e tentaram modificá-lo para parecer gente? E aí não deu certo e por isso ele morreu. Ou então, modificaram ele ainda no ventre, e por isso ele nasceu maldito. Teria sido um natimorto, ou um neomorto? Me perguntava essas coisas enquanto me afastava da lápide, querendo ficar o mais longe possível dali.

Dentro do hotel era... Bem diferente do imaginado também. Para começar, parecia uma igreja. Sabem como o térreo de um edifício pode ser bem mais alto do que o resto dos andares? No caso de edifícios comerciais ou de luxo, o térreo pode ser como se fosse um grande salão real, com o pé-direito da altura de uns 3 à 5 andares, e amplas janelas iluminando tudo. Só que aqui as janelas eram vitrais coloridos de igreja, e o pé-direito dava em tetos de abóboda, com pinturas renascentistas no teto. As cores dos vitrais não eram muito alegres, no entanto. Predominava o vermelho escuro, amarelo doentio e roxo mais escuro ainda, então a luz que entrava era quase sombria. As pinturas no teto também não eram das mais cativantes, embora não me recorde o que mostravam.

Dorimê~

Outra coisa estranha era que a maior parte do espaço no térreo estava fechado para reforma, com um muro de placas de madeira bloqueando a passagem. Tínhamos acesso apenas ao saguão de entrada, com o balcão onde ficava a recepcionista, às saídas opostas do hotel (uma para a estrada principal e outra para a praia), e uma espécie de lobby/sala de espera onde haviam alguns sofás, poltronas e divãs. Esta sala também dava para a praia, mas com uma parede totalmente de vidro, que permitia ver toda a mini--paisagem praiana com as árvores ao redor servindo de moldura.

Enquanto meus pais falavam no balcão com a recepcionista, eu tentava ficar na ponta dos pés para ver como era o resto da igreja do hotel do outro lado do muro de reforma. Por cima das placas de madeira conseguia ver a parte de cima de um altar distante, do lado oposto do salão, e dando uns pulinhos conseguia ver fileiras de bancos de madeira onde as pessoas rezariam para o altar.

Quando meus pais terminaram de falar no balcão, meu pai saiu para ir buscar o carro, e notei que ele parecia nervoso. Minha mãe não foi com ele, em vez disso ela veio até mim com as malas que havíamos trazido na mão e contou que a moça explicou para eles que o elevador estava em reforma também, e os únicos quartos disponíveis eram bem altos, tipo do 15º para cima, e que se não quiséssemos ficar subindo e descendo todas essas escadas, poderíamos passar a noite no lobby de espera. Os divãs e sofás dariam camas decentes, e no dia seguinte viriam consertar o elevador. Talvez.

Então nós dois fomos até essa sala deixar nossas coisas. Eu só pensava em duas coisas: Primeiro, que seria difícil de dormir, pois com a parede de vidro teria a luz da lua iluminando tudo, e eu tenho dificuldade para dormir à menos que seja no breu total. Segundo, pelo menos estávamos entrando na frente da outra família que atravessou o córrego conosco, então poderíamos escolher os melhores lugares para dormir. Pegamos um canto da sala em que haviam dois divãs, um ao lado do outro, e um sofá de frente à eles. Minha mãe ficaria com o sofá, pois já dorme no de casa o tempo todo, e eu e meu pai ficaríamos com os divãs, que davam camas decentes de fato. Arrumamos nossas coisas naquele espaço e agora era só esperar meu pai voltar, e depois esperar o horário de dormir, e torcer para que no dia seguinte tivéssemos um quarto decente. Se bem que não sabia porquê diabos ainda estávamos ali, já que não parecia ter muito o que fazer naquele hotel, ou naquela praia minúscula. Talvez meu pai conseguisse curtir o lugar mesmo assim, isso se ele voltasse, é claro...

Mas, para a surpresa de todos que gostam de adivinhar o que acontece à seguir num filme de terror, meu pai realmente voltou. E o pai da outra família também, que assim como ele havia ido buscar o carro no acostamento, mas eu não havia achado onde encaixar esse pedaço de informação no texto anterior. De qualquer forma, ambos estavam de volta, e supostamente haviam trazido os carros pela estrada após conseguirem a informação do caminho correto com um dos seguranças. Nós passamos o resto da tarde entre a praia e a sala de espera. Não nos preocupamos muito com nossas coisas pois dava para ver elas através da parede de vidro, mesmo quando estávamos no mar, e até agora não havíamos visto ninguém além dos funcionários do hotel, e as três pessoas da segunda família. O mais preocupante era a criança mexer em alguma coisa, mas ela parecia interessada unicamente naquele monumento em forma de lápide, brincando em cima do círculo de pedra o tempo todo. Eu até entrei um pouco no mar, mas como já era final da tarde - acho que chegamos por volta do meio dia - a água já estava ficando mais fria, então passei a maior parte do tempo nas poltronas do lobby ou no divã onde eu ia dormir, mexendo no celular ou apenas encarando aquele estranho monumento de pedra com a lápide que não parecia incomodar mais ninguém além de mim.

Após anoitecer, as coisas ficaram um pouco mais perturbadoras. Para começar, não havia nenhuma iluminação na praia do lado de fora. Nem mesmo uma lâmpadazinha na saída do hotel para a areia. Além disso, pessoas começaram a chegar no hotel, pessoas que se vestiam com roupas antigas e conservadoras, e entravam direto na área que estava "fechada para reforma", onde ficava o altar e os bancos que eu havia visto anteriormente. Aquilo estava começando a parecer um culto. A janta atrasou um pouco, como se parecesse incômodo para os funcionários do hotel prepararem a janta para a gente durante o horário do culto, e no final tivemos que comer nos sofás e poltronas mesmo, pois não parecia haver um refeitório ou mesas de janta no local. Para ficar ainda mais estranho e confuso, em dado momento enquanto comia, escutei alguns nomes sendo entoados no salão principal. Foram 7 nomes ou palavras seguidos, proferidos com alguma importância, mas o único que escutei, ou que lembro de ter escutado, foi "O Lobisomem", e isso só serviu para me deixar mais "??".

A janta não foi tão boa assim, e minha mãe estava reclamando de ter que comer "ensacada", com o prato no colo. Depois da janta, meu pai decidiu que aquilo tudo já estava desconfortável o suficiente, e pediu para que um dos funcionários ou seguranças levassem ele até onde seria nosso quarto, para saber se valeria à pena esperar consertarem o elevador no dia seguinte - o que provavelmente não ocorreria tão cedo, talvez levasse a tarde toda, mencionaram que o mecânico só viria, se viesse, após o almoço - ou se iríamos embora à primeira luz de manhã.

Então, como acontece em um sonho, corta para quando já estamos deitados e dormindo. Não lembro o porquê, mas passei aquela noite com muito medo. Ficava olhando pela parede de vidro, na direção da lua, da praia, das árvores ao redor e daquela lápide. Quem era Phillip Toddler? O que era "O Lobisomem"? E peraí, onde estava meu pai? Ninguém mais deu falta dele? Ele não havia voltado ainda... Foi aí que eu meio que percebi que estava sonhando, ou que poderia estar sonhando, e pensei em acordar. "Eu estou no meu quarto", pensei, "quando abrir os olhos, estarei de volta no meu quarto, na minha casa." Mas nada disso, continuava ali, naquele lobby, dormindo num divã com a luz da lua entrando pelo vidro. "Bem, vou voltar à dormir, e quando acordar, nada disso será mais um problema."

...

Quando "acordei", ainda no sonho, havia cortado para a tarde seguinte. E, por algum motivo, não me lembrava de que havia percebido antes que estava sonhando. Novamente estava no lobby, com as nossas coisas, mas dessa vez estava sozinho. Parecia que a outra família estava na praia, logo à frente, mas estava muito claro para olhar para o lado de fora, somente escutava suas vozes do outro lado. Minha mãe também não estava ali, e nem sinal do meu pai desde a noite anterior. Quando comecei a pensar em procurá-los, eis que minha mãe entra na sala, e ela estava vestindo o mesmo tipo de roupa antiga e conservadora das pessoas que entraram no hotel de maneira suspeita na noite anterior. Ela parecia estar calma demais, e meio desligada com as minhas preocupações. Perguntei sobre o mecânico, se havia vindo consertar o elevador, e ela nem respondeu. Também não parecia se lembrar do meu pai, e quanto mais eu perguntava, mais estranha ela ficava.

Novamente o sonho corta para mais à frente, e agora estou na mesma sala de espera, à noite, fazendo algum tipo de intervenção, ou até mesmo exorcismo, com a minha mãe. Várias pessoas estão ao redor, pareciam mais do que apenas as três pessoas da segunda família, e estavam ali como que testemunhas da intervenção. Grito com ela, para tentar fazê-la lembrar-se do meu pai, mas tudo que ela diz é que "irá se atrasar para o culto", e que precisava sair dali, repetidamente. Parecia importante que fosse para o culto, ou algo terrível aconteceria. Profundamente perturbado, seguro ela pelo rosto e pergunto "Por quê? O quê irá acontecer se você não for? Por que isso está acontecendo?!

Em resposta, com o olhar fixo em mim, o corpo dela começa a flutuar. Ainda estou segurando ela pelo rosto, mas o resto do corpo começa a levitar, levantando-se mais alto do que o rosto dela, e a girar, apesar do pescoço permanecer parado. As pernas e braços começam a dar a volta para frente, como garras ou tentáculos tentando me envolver, e eis que percebo que estava em transe olhando para ela, solto seu rosto e me afasto de seu alcance. Agora não havia mais ninguém ao nosso redor, e penso em fugir dali. Olho para a parede de vidro, com a saída para a praia escura, mas antes de dar um passo naquela direção eu congelo no lugar. Eu podia ver a escultura de pedra do lado de fora, e a lápide não estava mais lá, parecia caída no chão. Não sei como a iluminação me permitia perceber isso à noite, mas também havia um buraco onde a lápide deveria estar. Seria então realmente um túmulo, e agora ele estava aberto?

Foi então que notei algo mais na escuridão, olhando de volta para mim com um rosto esbranquiçado.

Só podia ser o tal Phillip Toddler, segurando uma faca ou outro objeto pontudo.

Após ver aquilo, imediatamente descongelei e saí correndo na direção oposta, para o salão principal da igreja do hotel. Como na noite anterior, novamente estava ocorrendo o tal culto, mas dessa vez era diferente. As placas de madeira haviam sido retiradas, e dava para ver o lugar inteiro, com todas as pessoas sentadas rezando nos bancos de madeira, e o altar... Mas o altar era imenso, muito maior do que havia notado quando tentei espionar um dia antes. E definitivamente não era um altar cristão. Não havia uma cruz, por trás do grande palanque onde alguém entoava uma espécie de oração havia uma estrutura em forma de candelabro, que terminava em 7 extremidades em cima. Aquela pessoa no altar entoava novamente 7 nomes, um seguido do outro, enquanto o restante das pessoas no salão os repetiam. Entre eles escutei novamente "O Lobisomem", e dessa vez compreendi mais alguns, como "A Noiva", "O Infante" e "O Lagarto". E flutuando acima das extremidades do candelabro, não estavam chamas, mas sim cabeças espectrais, que emitiam uma luz branca, cada uma relacionada à esses nomes que eram proferidos. Após alguns instantes perplexo, todas as cabeças começaram a se virar em minha direção, e quando digo todas digo tanto das pessoas orando, como as cabeças flutuantes no candelabro gigante. Todas me encaravam, como que me culpando por algo.

Eis que o padre - ou algo assim, aquela pessoa liderando no altar - aponta para mim e diz: "É ele! Um dos turistas que libertou o bebê maldito!" - Ele parecia evitar dizer o nome do bebê. - "Ele e seus pais são os culpados, culpados por tudo que construímos esses anos estar em risco agora. Rezar não vai mais adiantar, e nossos 7 Mestres não irão nos proteger! Devemos pegá-lo e oferecê-lo em sacrifício, assim como fizemos com seu pai, e o bebê maldito nos deixará em paz esta noite. Vamos, peguem-no! Tragam-no até o altar!

Quando percebi estava cercado de cultistas. Me agarravam de todos os lados, e eu só lutava e gritava que não havíamos feito nada, que não queríamos estar ali, que só viemos até o hotel por causa do maldito folheto, que ninguém mexeu no túmulo... Ou mexeu? Tudo veio à mim de uma vez só. A surpresa e o horror me acertaram mais forte que qualquer golpe das pessoas que tentavam me segurar.

Aquele rosto esbranquiçado que havia visto na escuridão, através da parede de vidro, e que havia atribuído ao tal Phillip Toddler... Ele se parecia muito com o rosto da criança de 4 anos que estava com a outra família. Parecia muito mesmo, só que uma versão distorcida e... Modificada daquele rosto. Lembrei da criança, e de como ela passava o tempo todo brincando ao redor da túmulo. Teria sido ela hipnotizada de alguma forma pelo espírito que estava ali, e durante uma de suas brincadeiras derrubou a lápide, libertando-o? Teria ela sido possuída, ou consumida, pelo tal Phillip Toddler, e agora ele tinha um corpo novo para andar na Terra?

... Ou aquela criança era, o tempo todo, desde que nos encontramos no acostamento... O próprio Phillip Toddler, nos guiando para nossa morte?

Fiquei pensando nisso em meu quarto após acordar, tremendo e suando frio, na vida real.