"And now for something completely different..."

sábado, 27 de março de 2021

O Sonho do Minecraft

Olár!

Dessa vez, em vez de um sonho vindo do arquivo de posts não-publicados de 2016/2017, tenho um sonho de ontem mesmo.

Neste sonho, estava jogando Minecraft com alguns amigos e amigas (o que é meio aleatório, pois infelizmente nunca tive a chance de jogar Minecraft com mais do que uma pessoa), e estávamos jogando Hide or Hunt em duplas, uma modalidade customizada que consiste basicamente em:

- Cada dupla tem um Beacon que representa a sua base secreta. Eles tem que colocar esse Beacon num local escondido no primeiro dia de jogo e não podem mais tirar ele do lugar depois.

- Após o primeiro dia, o objetivo é procurar o Beacon de cada outra dupla e destruí-lo. A última dupla viva com seu Beacon de pé vence o jogo.

- A entrada/porta da sua base secreta não pode ter mais do que uma camada de blocos separando ela do mundo exterior, de forma que se alguém que estiver procurando aleatoriamente quebrar o bloco certo, terá acesso direto à sua base e ao seu Beacon.

- Cada dupla, ao morrer, respawna no seu Beacon. Além disso, só podem craftar no próprio Beacon. Dessa forma, força-se que os jogadores retornem à base com certa frequência, possivelmente revelando sua posição.

- Após ter seu Beacon destruído, a dupla ainda continua jogando até morrer, e podem usar essa vida para fazer o que quiserem, desde se aliar a outra dupla até continuar caçando por vingança. Após morrerem, não mais respawnam e estão fora do jogo.

- Cada dupla está em sua própria chamada no Discord, e podem convidar outra dupla para conversar quando desejarem.


Exemplo de uma base secreta com um Beacon (em azul).

Acho que essas são as regras que mais importam, pelo menos para contar o sonho. Foi tão detalhado que lembro até da geografia do mapa, mais ou menos. Então, sem mais delongas, vamos ao sonho!

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As duplas eram:

K-2 (eu) e Capelo (Vou chamar de Time Kps).

Quejinho e Pedro Nasseti (Vou chamar de Time Deuses Gêmeos).

Pato e Letícia (Vou chamar de Time Rat Lovers).

Lise e Ísis (Vou chamar de Time Lísis).

Spawnamos num mapa que era basicamente uma curta faixa de planície com colinas, praticamente sem árvores nessa faixa, e cercada dos 3 lados por montanhas altas, e do outro lado pelo mar. As montanhas tinham um pouco mais de árvores e também geravam pedaços flutuantes de chão que pairavam acima da planície, enquanto do outro lado do mar tinha uma floresta bem mais densa.

Como tínhamos o primeiro dia livre e sem conflitos para escolher um local para nossa base secreta e plantar o Beacon, cada dupla correu para um lado diferente. Todas as duplas correram para as montanhas, exceto o Time Lísis, que correu pro mar e saiu nadando mesmo, rumo à floresta.

Eu e o Capelo vimos as outras 2 duplas escalando as montanhas e desaparecendo na distância, enquanto nós mesmos escalávamos. "Você está pensando na mesma coisa que eu estou pensando, K-2?" perguntava o Capelo, e estávamos na mesma página: Iríamos fazer nossa base em um dos pedaços de chão flutuantes. Para chegar em um deles, a maneira mais fácil e sem deixar vestígios seria escalar a montanha mais próxima e então pular da montanha para o pedaço flutuante.


Exemplo de uma montanha com pedaços flutuantes.

Pegamos um pouco de madeira na única árvore que tinha naquele pedaço de chão flutuante e colocamos nosso Beacon no chão em um lugar estupidamente exposto, ao ar livre, por algum motivo que só poderia ser explicado em um sonho. Fizemos algumas ferramentas de madeira e pulamos de volta para o solo, usando uma poça d'água na planície abaixo, e fomos coletar mais recursos para craftar.

Nos aproximamos de algumas árvores que ficavam entre as montanhas e começamos a coletar madeira e pedra, quando vimos o Time Deuses Gêmeos descendo a montanha em nossa direção, como que numa carga. Eles estavam armados com espadas de madeira, e nós subimos nas árvores para nos proteger. Eles ficaram rondando ao redor, esperando a melhor oportunidade para subir na árvore, quando eu lembrei que ainda era o primeiro dia e eles não podiam nos atacar. Entrei na call deles e o diálogo foi mais ou menos assim:

*connect*

Qjn: Vai passando a grana aí, otário!

Pedro: É, passa tudo!

Eu: ... Olá.

Qjn: Olá. Agora, vai passando tudo!

Pedro: É, perdeu, mermão!

Eu: Então, é o primeiro dia. Vocês não podem atacar ainda.

Qjn: ...

Pedro: Oh.

Capelo: Pois é. 😐

Qjn: Vocês tiveram sorte... DESSA VEZ.

Pedro: Falou, otários!

*disconnect*

... Uffa. Eles foram embora e nós descemos da árvore para continuar pegando recursos. Voltamos para nossa base pelo caminho do pulo e fizemos nossas ferramentas de pedra, e agora precisávamos de ferro, para idealmente termos armas e armadura para o segundo dia.

Mas o Capelo apontou que chamávamos muita atenção subindo a montanha para chegar na nossa base, e que talvez devêssemos fazer um caminho diferente... Tipo um TÚNEL SECRETO ATRAVÉS DA MONTANHA.

Through the mountain! Secret, secret, secret, secret tunneeel! ♪

O que era conveniente porquê, no processo de fazer um tunel, poderíamos encontrar ferro também. Então, começamos a cavar um túnel na lateral da montanha, de frente para nosso pedaço de chão flutuante, até algum lugar escondido na base das montanhas, por onde poderíamos entrar discretamente e sair lá em cima.

Magicamente, como em um sonho, conseguimos fazer exatamente isso, sem precisar de muito planejamento. E no meio do caminho, montanha adentro, encontramos uma caverna onde conseguimos coletar ferro e carvão. Tinha alguns mobs também, como aranhas e esqueletos, mas nós não deixamos a caverna nos abater.

Não deixe a caverna te abater, Sokka~ ♪

Quando terminamos nosso túnel e voltamos para nossa base com os recursos, já era de noite. Fizemos nossa fornalha e começamos a derreter o minério de ferro, mas cada vez mais parecia não ter sido uma boa ideia colocar o Beacon ao ar livre, pois monstros estavam spawnando no nosso pedacinho de terra voador. De qualquer forma, não podíamos mais mexer no Beacon, então não havia o que fazer.

Raiou o segundo dia, e o jogo estava valendo. Nós estávamos com espadas e picaretas de ferro, escudos, e parcialmente armadurados, o que parecia bom o bastante. Decidimos vasculhar as montanhas por sinais das bases dos outros jogadores.

O topo das montanhas era um platô de pedra lisa, com alguns bolsões de carvão expostos que já pareciam ter sido parcialmente mineirados. Ficamos por ali coletando mais um pouco de carvão que nunca é demais, quando ouvimos barulhos de luta. Saímos do pequeno buraco que havíamos cavado pegando carvão e nos encontramos no meio de uma batalha entre o Time Rat Lovers e o Time Deuses Gêmeos. A batalha em si estava um caos, com eles girando ao redor uns dos outros e trocando de alvo o tempo todo. Parecia que estavam ali fazia algum tempo.


Exemplo de um topo de montanha rochoso.

Decidimos entrar no meio da treta para finalizar alguém e pegar seus espólios, o que foi bem mais difícil do que parecia. Todos estavam de escudo e tinham bastante comida para se regenerar. Seria difícil descrever todo o combate em texto, mas ficamos ali praticamente o dia todo. Até ocorreram alguns abates, lembro pelo menos do Qjn e do Pedro terem morrido em ocasiões separadas, mas a luta continuou e logo eles estavam de volta, vindo da direção de suas bases, para pegar de volta os seus drops.

Anotamos mentalmente a direção da qual eles tinham vindo para procurarmos suas bases posteriormente, mas ficamos presos naquela luta infinita até o anoitecer, quando monstros começaram a spawnar e interromperam a batalha épica. Aproveitamos a deixa para escapar e voltar para nossa base com nossos espólios. Descemos as montanhas, entramos no nosso Túnel Secreto, subimos pela caverna evitando mais monstros, e saímos no paredão da montanha, pulando para nosso chãozinho voador.

Fizemos um baú maior para guardar todos nossos recursos e espólios, e agora tínhamos armadura completo e algumas armas de reserva em nossa base, caso morrêssemos. Esperamos a noite passar enquanto organizávamos nossos itens, cozinhávamos mais comida (havíamos gastado quase tudo na batalha) e matávamos algumas aranhas ocasionais que spawnavam na nossa base (afinal não podíamos colocar tochas ou iríamos revelar nossa posição).

Manhã do terceiro dia. Decidimos observar do topo de nosso pedaço de terra flutuante, esperando descobrir alguma coisa sobre a posição de nossos adversários. Após algum tempo de tocaia, vimos o Time Lísis vindo de barquinho pelo mar, e decidimos pular lá de cima para pegá-las de surpresa.

O plano deu muito errado. Esperamos elas virarem de costas e pulamos lá de cima para a nossa poça d'água, mas uma delas se virou e nos viram. Elas vieram nos atacar enquanto estávamos na água, e só então percebemos que estavam com armadura de fodendo diamante. Com muito esforço, conseguimos sair da água, mas à essa altura já estávamos com pouca vida e corremos para o mar, pegando o barco delas por pouco e escapando. 


Omae wa mou shindeiru.

Só que o maior problema nem foi esse. Como elas nos viram pulando do pedaço de chão flutuante, elas foram capazes de deduzir que nossa base poderia estar ali, e começaram a correr na direção da montanha. Eu e o Capelo saímos do barco para comer e regenerar, e nisso a Ísis subiu a montanha para procurar nosso Beacon, enquanto a Lise ficou no solo para nos atrasar. Ela viu a gente desembarcando e começando a comer, e decidiu vir correndo na nossa direção. Eu e o Capelo nos separamos, e eu fui na direção do nosso Túnel Secreto, que era mais demorado do que subir a montanha, mas era melhor do que levar um golpe delas e ser arremessado montanha abaixo e morrer por dano de queda.

Fiz todo o trajeto de túnel - caverna - túnel - paredão, e pulei para nossa ilha voadora, bem a tempo de ver a Ísis batendo em nosso Beacon e destruindo-o enquanto eu corria em sua direção. Eu não parei, e consegui acertá-la algumas vezes seguidas, empurrando-a para fora da beirada. Ela caiu e explodiu no chão, deixando suas armas, comida e armadura de diamante no chão.

Pulei novamente para a poça d'água no solo e coletei os espólios, e parecia que o Capelo tinha conseguido derrotar a Lise de maneira similar, derrubando ela da montanha. Porém, nosso Beacon havia sido destruído, e não podíamos mais ganhar o jogo.

Mas poderíamos garantir que elas não ganhariam também. 😐

Com nossas novas armaduras de diamante e um bom estoque de comida, pegamos novamente o mesmo barquinho e remamos até a floresta do outro lado do mar, onde elas deviam ter feito sua base secreta. Andamos agachados entre as árvores, e para nossa sorte, vimos elas saindo de uma caverna muito bem escondida por dois troncos que elas abriram, saíram, e colocaram de volta no lugar.

Esperamos elas viraram de costas e se afastarem, mas elas nos viram novamente, e corremos na direção dos troncos. Derrubamos eles e entramos na caverna, com elas já no nosso encalço. A caverna era bem aberta, com o chão coberto de água, e havia uma fazenda artificial bem no meio. Dali, já podíamos ver o Beacon, e corremos até ele e começamos a atacar, enquanto as armaduras de diamante que roubamos delas tankavam o dano de seus ataques. O Beacon foi destruído rapidamente pelos nossos golpes simultâneos, e nossa vingança havia sido concluída. 

Nos viramos, ainda bem saudáveis, para enfrentá-las, quando de repente...

Pedro e Quejinho, o Time Deuses Gêmeos, entrou na caverna! Eles deviam estar observando tudo e nos seguindo desde o começo. Eles não tinham armadura de diamante, mas estavam decididos a eliminar os dois times sem Beacons. Outra batalha bem caótica começou, pois o chão da caverna era todo de água, e a movimentação era desajeitada. 

E quem saiu vencedor deste épico combate? Será que o Time Deuses Gêmeos conquistou sua vitória através da agressividade? Ou teria essa sido a chance para o Time Rat Lovers sair de sua toca e tomar o pódio? Nunca saberemos. Nas palavras de John Lennon:


O sonho acabou.

É isso, eu acordei aí, então vocês decidem o que pode ter acontecido. Gostaria de poder jogar esse modo Hide or Hunt na vida real, mas não só as pessoas não costumam ter o Minecraft original, como não sei o que precisaria para modificá-lo com essas regras. Mas pelo menos em sonho, pude me divertir jogando com meus amigops.  ^^

sexta-feira, 26 de março de 2021

Yarok, o Clérigo da Morte com a História Escrita por George R. R. Martin

Olha só, quem diria, tive a chance de criar mais um personagem para outra campanha de D&D!

Dessa vez, é uma campanha one-shot, ou two-shots, que visa um grupo de combatentes indo participar de um Grande Torneio envolvendo pessoas de todas as nações. Tínhamos uma descrição breve da importância do torneio e das diferentes regiões e nações, porém muita coisa estava em aberto, por exemplo, tínhamos o nome de cada nação e sua capital, mas podíamos criar cidades, eventos passados e nomes de divindades nas histórias de nossos personagens.

Ao contrário do meu personagem em outra campanha que estou jogando, que é um kobold covarde, dessa vez eu decidi fazer um personagem mais maneiro e EDGY.

Com a permissão da Mestre, (que é minha namorada mas isso não tem nenhuma influência sobre a permissão, claro), pude fazer um Clérigo do Domínio da Morte. Essa é uma classe apresentada como classe vilanesca no Guia do Mestre do D&D 5th Edition, porém é bem comum se você olhar por aí que a classe seja utilizada por jogadores, e o livro até descreve a possibilidade de ser utilizada dessa forma. A maior dificuldade é em termos de roleplay, para encaixar um clérigo com alinhamento Mau na party.

Bem, em uma das streams de campanhas do Koibu que eu assisti, Gnomes, Tomes and Catacombs, Lilypichu interpreta Midori, uma clériga da deusa da vida que, após a morte de dois dos personagens de outros jogadores durante a campanha, converte-se para a deusa da morte. Essa deusa, no mundo criado por Koibu, apresenta uma postura mais Neutra para o conceito de Clérigo do Domínio da Morte: A de que a Morte é necessária para a manutenção da Vida, e que a Destruição é um pilar necessário para a Criação.

Trouxe esse conceito de neutralidade para o meu personagem, criei a cidade-natal dele, assim como alguns conflitos locais, e criei o conceito de duas deusas gêmeas representando a vida e a morte: Kaira, a deusa da vida, possui apenas a metade de cima do rosto, do nariz para cima, com longos cabelos dourados, enquanto a deusa da morte Ashiok, totalmente baseada na Ashiok do Magic, tem apenas a metade de baixo do rosto, com fumaça negra saindo por cima.

Segue abaixo a história do personagem, que acabou ficando bem grande, e meio que me senti como o George R. R. Martin fudendo com a vida de seus personagens, então espero que gostem! ^^

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A História de Yarok, Campeão de Ashiok

Yarok foi um jovem que dedicou boa parte de sua maturidade servindo a deusa da vida Kaira, uma das deusas gêmeas no deserto de Tamamaam.

Nascido numa cidade menor chamada Bashuk, próxima à Zijab, desfrutou de relativa paz e prosperidade com sua família de origem, vivendo numa região emergente que se desenvolvia às sombras da capital. Porém, essa prosperidade seria cortada com o início de uma guerra civil onde os inimigos visavam a capital Zijab, que não é reconhecida por todos os povos do deserto. Apesar da capital nunca ter sido atacada neste conflito, quase todas as cidades menores nas regiões vizinhas foram atacadas, saqueadas, ou tomadas, Bashuk sendo uma delas. Quando a região foi finalmente retomada pelas forças legítimas de Zijab, o cenário nessas pequenas cidades havia se invertido, sobrando apenas pobreza e destruição.

Seus pais morreram na guerra, casualidades civis, quando ainda tinha 6 anos, e desde então ele e suas irmãs viveram com os tios, que também haviam perdido seus filhos na mesma guerra. A vida com seus tios não foi particularmente ruim, porém teve que amadurecer rápido e tomar conta de suas irmãs, uma vez que seus tios não podiam dar muita atenção para eles, e nem possuíam muito dinheiro.

Aos 16 anos uma doença abateu-se na região, espalhando-se rapidamente pelas rotas comerciais e tomando a vida de suas irmãs e de seus tios, deixando-o sozinho. Não foram mortes fáceis de assistir, tendo presenciado sofrimento e agonia revirarem os olhos inocentes de suas irmãs.

Perdido e abalado, procurou abrigo numa abadia isolada nos arredores da cidade dedicada à deusa Kaira, onde estavam adotando os órfãos deixados pela praga, mas apenas aqueles que já haviam se mostrado imunes à doença, que tiveram contato com pessoas doentes sem serem afetados e que não iriam trazê-la para dentro da abadia, que ficava protegida pela sua distância da cidade.

Como ele já não era uma criança pequena, foi tomado como ajudante, cuidando dos órfãos mais novos enquanto era doutrinado sobre a deusa Kaira e como ela protegia toda a vida como se fossem seus filhos e filhas.

Para ele, foi como ter encontrado uma motivação após toda a morte que sempre o cercara durante toda a vida; talvez tivesse passado por tudo isso para aprender sobre a importância da vida, e seu dever em protegê-la. Decidiu que por onde passasse, levaria as palavras da deusa Kaira, e faria tudo ao seu alcance para que outros não conhecessem a dor da perda e da morte como ele conheceu.

Dos 18 aos 22 anos, Yarok viveu como um clérigo guerreiro que servia à deusa da vida, e junto com outros clérigos e guerreiros ele se tornou parte de um grupo de devotos que viajava para outras cidades mais distantes, protegendo e curando vítimas de conflitos locais e doenças. Esse grupo veio a se tornar praticamente sua segunda família, onde também conheceu seu primeiro amor, uma clériga chamada Allana, e seu melhor amigo, outro guerreiro chamado Marko. Juntos, e como parte desse grupo, realizaram grandes feitos de trabalho humanitário, intervindo quando ninguém mais se importava em intervir, ajudando os realmente necessitados, e impedindo muitas mortes. Porém, ainda assim, também presenciaram muitas mortes que não puderam evitar.

Quando retornavam de suas missões, voltavam para aquela abadia local nos arredores de Bashuk, que ainda recebia muitos jovens órfãos. Essas crianças viam Yarok e seu grupo como seus heróis e irmãos mais velhos, e o clima no local era de uma felicidade simples e de grande hospitalidade e familiaridade.

Porém, tudo isso mudou novamente, e Yarok conheceria a morte de perto mais uma vez. Em certa ocasião, quando seu grupo saiu para intervir em um conflito que devastava uma região mais distante e próxima das montanhas, líderes locais responsáveis por esse conflito não gostaram da chegada do grupo, e prepararam uma armadilha. Yarok e seus amigos foram emboscados dentro de um refúgio civil onde estavam cuidando dos feridos, com os atacantes cercando o local com o objetivo de massacrar a todos. Eles lutaram bravamente para impedir a entrada dos atacantes, mas no final, sem conseguirem entrar, os atacantes atearam fogo no refúgio com o grupo de Yarok e todos os sobreviventes e órfãos dentro.

O que se seguiu foi o caos, com as pessoas correndo para fora, fugindo das chamas, apenas para serem mortas por flechas e espadas. No meio do caos, Yarok e seus companheiros tentaram liderar algumas pessoas através da confusão, sem sucesso. Todos foram mortos, e Yarok acordou apenas no dia seguinte, esquecido e abandonado em meio aos corpos de seus amigos e de inocentes. Com muito esforço e angústia, encontrou e enterrou os corpos de Allana e Marko. Marko havia morrido lutando ao seu lado, porém Allana identificou somente por causa de seus colares e pulseiras, carbonizada debaixo dos restos do refúgio.

Sabe-se lá como, Yarok conseguiu chegar num povoado próximo, onde comprou provisões e um cavalo com o dinheiro que havia conseguido dos mortos, e fez a longa jornada de volta para a abadia sozinho, carregando o peso esmagador do luto em suas costas.

Quando finalmente alcançou a cidade de Bashuk, os moradores locais reconheceram-o chegando, e se aproximaram com pressa. Para seu horror, contaram-lhe sobre um grupo de estranhos que chegou à cavalo na cidade na noite anterior, matando alguns guardas que foram pegos de surpresa, sendo expulsos por outros guardas logo depois, e então recuado para fora da cidade, na direção da abadia, que ficava isolada e desprotegida. Daquela direção, subia uma coluna de fumaça negra.

Yarok cavalgou às pressas, apenas para encontrar a abadia incendiada e em ruínas, com todas as crianças, clérigos e ajudantes mortos dentro. Pelo visto, os mesmos líderes locais que não haviam ido com a cara daquele grupo de clérigos e guerreiros trazendo ajuda humanitária à uma região distante não se contentaram em apenas eliminá-los junto com os refugiados, e enviaram um destacamento menor muito longe apenas para destruir a abadia deles e apagar de vez com todos os seus traços de existência e tudo que haviam construído ao longo dos anos. Talvez fosse apenas uma mensagem para que nenhum tipo de força ou ordem vindo da capital Zijab ou de seus arredores se intrometessem em seus assuntos, e que nenhuma ajuda era bem vinda.

Qualquer que fosse a motivação, não importava mais para Yarok. Ele apenas gritava, ajoelhado no chão, sobrecarregado com toda aquela morte e sofrimento desnecessário. Corpos carbonizados de inocentes, de fiéis, de pessoas que queriam apenas ajudar ao próximo, que somente desejavam tornar o mundo melhor. Sua namorada, seu melhor amigo, sua nova família... Todos mortos. Pela segunda vez, ele havia perdido toda a sua vida e todo mundo ao seu redor. Pela segunda vez, perdeu todo seu senso de normalidade e perspectiva para o futuro.

Gritou e clamou pela sua deusa. Onde estava Kaira? Que vida ela protegia, se não protegia a vida de seus servos, de suas crianças? Como ela podia deixar a vida de todos esses inocentes ser tomada assim, apenas por um capricho de pessoas egoístas? Como ele poderia proteger algo tão frágil e sem valor como uma vida, se nem uma deusa era capaz de proteger?

Suas palavras cortaram o coração da deusa Kaira como veneno, e em seu coração ele sentiu a profunda mágoa da deusa e sua raiva para com ele. Ou seria a sua própria raiva e mágoa? Poderia ele sentir o exato momento em que sua deusa o abandonou, sendo acometido de um vazio maior do que nunca em seu coração, ou seria apenas sua própria dor e solidão? Yarok considerou tirar sua própria vida ali mesmo. Suicídio, o maior pecado para um clérigo da vida.

Mas ele foi interrompido por um frio em sua espinha. Um calafrio correu por suas costas e chegou até a parte de trás de seu pescoço, acariciando sua nuca. Como um toque vindo de uma mão gelada, de unhas afiadas, mas ainda assim tão gentis... E então escutou uma doce voz sussurrando em seu coração arrasado.

Era Ashiok, a deusa da morte, irmã gêmea de Kaira, a quem ela adora provocar. Com suas palavras de conforto e sabedoria ditas de forma gentil no momento mais frágil e oporturno, ela não poderia perder a oportunidade de converter o último servo daquela abadia para si mesma. Sabia que para sua irmã, este seria um crime muito pior que o suicídio.

“Yarok, minha doce criança... Você sofre pela vida daqueles que você perdeu, mas eles estão em paz, comigo. Você sofre por estar vivo, mas não eles, não mais. O sofrimento que eles sentiram, e que você sente agora, vem apenas por se agarrarem tão forte à vida. Mas a morte é bela, é justa e piedosa... Não há sofrimento após a morte, e não precisaria haver antes dela também... Basta apenas aceitá-la. Me aceitar. Se as pessoas parassem de lutar contra a morte, não haveria tanto sofrimento, pois eu garanto uma passagem segura e indolor para o outro lado.”

Yarok lembrou-se do pouco que sabia sobe os clérigos da deusa Ashiok; pessoas encapuzadas que viajam pelo deserto carregando seu símbolo, oferecendo a única bênção que ela pode oferecer: A morte. À primeira vista pode parecer algo mórbido e horrendo, mas ocasialmente, por onde passam, pessoas os procuram para ajudar um parente enfermo, sofrendo com doenças ou feridas incuráveis. Sua bênção encerra a vida da pessoa de maneira rápida e indolor. Até mesmo alguns idosos, em sua idade avançada, buscam a deusa Ashiok para que possam ter uma morte tranquila e pacífica.

“Não aceite mais as mentiras da vida, contadas por Kaira... Não há como você proteger algo que está fadado à acabar, é um trabalho infrutífero e infeliz. Aceite a minha verdade, meu querido Yarok: A única verdade sobre a vida, é que ela acaba. A única garantia para os mortais, é a morte. E eu venho aqui como a deusa dessa verdade, e lhe ofereço a chance de servir à única força com a qual você poderá contar até seus últimos dias!”

Para Yarok, era impossível não dar ouvidos à essas palavras. Parecia tão lógico, tão sensato. Um mortal como ele jamais poderia lutar contra a morte, jamais poderia proteger algo que não pode ser protegido.

Talvez, pensou, a morte fosse a melhor maneira de ajudar as pessoas. Lembrou-se do quanto viu suas irmãs sofrerem com uma doença quando era mais novo, e no quanto todos aqueles que foram queimados na abadia e no refúgio deveriam ter sofrido. Gostaria de ter-lhes oferecido a bênção de Ashiok; uma fria e doce carícia seguida apenas pelo descanso eterno.

Guiado pelas palavras da deusa da morte, vivendo seu luto e buscando iluminação, Yarok partiu da cidade sem falar com mais ninguém, vagando pelo deserto e chegando até às montanhas, onde subiu e isolou-se no topo de um platô. Viveu em reclusão por 4 anos, sustentado principalmente pela sua nova fé, pois Ashiok ainda tinha um trabalho para ele. Ela sabia que ele ainda traria muitas vidas para seus braços antes que sua própria acabasse.

Yarok continuou treinando e vivendo nas montanhas, até que no fim de seu período de reclusão, sua deusa finalmente revelou o trabalho que tinha para ele: Em breve haveria um Grande Torneio, envolvendo todo o continente, e ele seria seu Campeão. Ele deveria participar desse torneio, e ganhar em seu nome, e então mais coisas seriam reveladas no momento certo.

Quando questionou porquê ela precisava que ele participasse num torneio, a única resposta que teve foi: “Forças ocultas alteram o equilíbrio entre a vida e a morte, e através desse torneio, você poderá participar diretamente no esclarecimento e na resolução de tais forças, prestando assim um grande serviço para mim, um que ninguém mais seria capaz de cumprir.”

E assim, no seu aniversário de 26 anos, Yarok encontrou sua resolução e desceu das montanhas como Campeão de Ashiok. Tomou rumo para Teópia, o grande império onde ocorreria tal torneio, e em seu caminho, encontraria situações onde poderia acabar com a vida dos injustos, e trazer um fim para o sofrimento dos inocentes.


Para apresentar-se como um Campeão da deusa da morte, conseguiu um escudo de um inimigo abatido e pintou-o ele mesmo com as cores e símbolo de Ashiok: Metade de um rosto pálido e feminino, exalando fumaça negra.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Moments: Edição Para Pensar

Vindo direto dos arquivos não-publicados de 2016/2017, segue mais uma sessão de Moments que explicam muitas coisas sobre o passado se você parar pra pensar. Ou não. 

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Ex: Sabe o Jimmy Fallon?
Eu: Quem?
Ex: É um comediante que tem um Late Show.
Eu: Sabe quem também tem um late show?
Ex: Quem?
Eu: O Starbucks.
Ex: ...
Eu: Sabe, LATTE... Show.
Ex: *ignora e continua falando* Então.
(Por que será que ela terminou comigo?)

*em casa sem luz*
Ex:  Nossa, será que vai ficar a noite toda sem luz?
Eu: Normalmente fica até o sol nascer, por isso se chama "noite".
(Ah tá, deve ser por isso. -q)

Mariana V.: Affe, querem mudar o nome da estação Vila Mariana prum pastor chamado Enéas. Não ousem mudar o nome da minha estação!
Eu: Se não for pra mudarem pra Vila Marinada, nem mudem!
Ou Vila Marilurdes.
Ou Vila Marilove.
Vila Marixana, etc.
Mariana V.: Você é péssimo, hahaha!
Eu: VILA MARITACA! Tá, parei.
Mariana V.: Vila Maricota, como minha mãe me chama.
Eu: Perfeito.

Eu: Salgados por 1 real ao lado da CHQ. Is this real life?
Capelo: Acho que são feitos com os estudantes perdidos da UFABC.
Eu: Bom, se eu não responder mais, já sabe.

Eu: Vou jogar XCOM 2, boa noite. <3
Ex: Ai, não, quero mais você.
Eu:

Pronto, boa noite.
Ex: *ignora e continua conversando*
(Estou notando um padrão.)

Eu: "Versão Brasileira, brHUE: Brazil Has Uírde Estãf."
(Brazil has weird stuff.)

Eu: *pessoa que não gosta de palmito* A vida é como um grande palmito, vem contra a sua vontade.

Ex: Tô com mó preguiça, mas tô com a barriga muito cheia para ir deitar na cama...
Eu: Resumo da minha vida.

Publicação no Facebook: Esse é um pai mito.
Eu: *postando comentário* E esse é um palmito.


*durante a guerra de provocações de milkshakes entre redes de fast-food*
Eu: Desde que começou essa campanha/disputa de #milkfake, até parece que o shake do Bob's ficou mais gostoso. Acho que é o sabor da guerra.

Eu: "I'm blue, Babidi-Daburah, Babidi-Daburah..." ♪
(I'm blue, da ba dee, da ba da.)









Ex: Ah, desculpa.
Eu: Por quê?
Ex: Arrotei.
Eu: Nem ouvi.
Ex: É que passou uma moto.
Eu: "Sabe essa moto barulhenta que acabou de passar? Então, era uma bicicleta."

Publicação no Zap: Será que na Grécia antiga, escreviam "Zeus é fiel" nas carroças?
Qjn: More like "Zeus, não me mate."
Eu: Ou "Zeus, por favor não transe com a minha mulher."
Hed: Impossibru. Mitologia grega in a nutshell = Zeus couldn't keep it in his pants.
Eu: Gênesis grego: "No começo havia apenas a escuridão. 
Então, Zeus fodeu a escuridão com seu glorioso membro olímpico. Nove meses depois, a escuridão deu a Luz."

*falando sobre uma foto velha de quando éramos crianças*
Pato: Sei lá, éramos idiotas.
Eu: Não éramos idiotas quaisquer, éramos Lendários Idiotas!

*depois de trazer comida vindo de outro município, no calor do verão*
Eu: Comida chegou quentinha, acabou de sair do ônibus.

*falando sobre comida*
Ex: Opa, malz, eu confundi frozen com smoothie.
Eu: *voz do Lucas do Inutilismo* Melhor do que confundir Frozen com Enrolados, a trama é bem diferente.
Ex: *ignora e continua conversando*
(Vendo agora, é óbvio que era uma relação insustentável. -q)

(E para tirar o foco de relações passadas e fechar esta sessão com chave de ouro...)

*durante uma discussão casual sobre qualquer coisa*
Eu: Peraí, deixa eu pesquisar isso.
*pega o celular *
*destrava o celular*
Ok Google. *barulhinho*
*abre a boca para falar*
Qjn: SURUBA DE ANÃO!
Todos: *RISOS*

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É isso, espero que tenham gostado. xD

quarta-feira, 24 de março de 2021

Dois Sonhos Esquisitos

Mais um vindo do arquivo de textos não-publicados de 2017!

Dessa vez, eu tive dois sonhos na mesma noite, e estava contando para meu amigo Capelo. Segue abaixo o diálogo:

Eu: Eu tive dois sonhos esquisitos pra porra. Num deles eu tinha tipo uns Padrinhos Mágicos e desejei ver a origem dos hipopótamos, daí eu fui transportado para uma floresta no passado. Lá, eu estava vivenciando a situação como se fosse um dos nativos, meio que na Idade da Pedra, e tinha eu, outro cara e uma criança.

Nós 3 estávamos andando pela floresta quando eu vi entre as árvores uma nave espacial em formato de ovo flutuando pouco acima do chão, e então a parte debaixo dela abriu, emitindo uma luz por onde desceu flutuando um hipopótamo.

A gente se assustou e saiu correndo, mas perdemos a criança no caminho. Eu e o outro cara chegamos numa caverna, onde nos escondemos atrás de uma pedra, esperando para ver o que aconteceria.

Cinco minutos depois, entrando pela caverna chegou a criança, só que muito mais velha e com traços de hipopótamo no rosto, dizendo que "eles" pegaram ela e por isso havia envelhecido. Só que o outro cara não aceitou, ele era muito primitivo para entender, então ele ficou assustado e fugiu mais para dentro da caverna, onde caiu num buraco. Nós corremos atrás dele e olhamos para o buraco, e o sonho acabou aí. 

Capelo: A pergunta é: O que veio primeiro, o ovo voador gigante ou o hipopótamo?      


Eu: No outro sonho, eu estava num apartamento tipo no último andar do condomínio antigo onde eu morava em Santo André, que tem 19 andares. Eu estava no meu quarto com a janela aberta, fechada apenas com uma cortina normal, e ao lado da janela eu tinha um cabideiro onde estava pousado um Pidgeotto azul.                        

Tipo, de verdade, literalmente um Pidgeotto.

Daí eu tive a brilhante ideia de trollar ele. Chamei ele, ele veio voando na minha direção e eu dei uma travesseirada nele, sei lá porquê.

Ele ficou puto e saiu voando pela janela, e eu fiquei tipo "Putz, que burrice, perdi meu Pidgeotto azul." 

Eu fui olhar pela janela e vi ele voando em círculos entre os prédios, então eu tentei arremessar a pokébola pra recuperar ele. Só que quando eu arremessei a pokébola, passou voando um Pidgeot azul na frente, e eu acabei capturando ele em vez disso.

Mas logo em seguida eu lembrei que não precisava arremessar a pokébola pra retornar um Pokémon que eu já tinha, e que aquela nem era a pokébola do Pidgeotto, daí eu achei a pokébola certa e apertei o botão apontando pra ele e ele retornou, então eu fiquei com os dois. Um Pidgeotto azul e um Pidgeot azul.

Mas sempre que eu tentava soltar o Pidgeotto de novo ele tentava fugir, e o Pidgeot era grande demais pra caber no quarto, então no fim os dois ficaram só dentro das pokébolas mesmo. E acabou por aí.

Capelo: Moral da história: Mais vale um Pidgeotto no cabideiro do que dois no travesseiro.

Eu: Claramente essa foi a moral que o sonho tentou passar.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Jorj, o Kobold que Queria ser Hardcore, Mas Sua Mãe Não o Deixa

Alô pessoas!

Fazia muito tempo que eu queria jogar D&D, o RPG Superior. Eu nunca tive chance de jogar direito, devo ter jogado apenas uma sessão que nunca continuou depois, e feito fichas algumas vezes, para acabar não jogando. Engraçado como a Wizards of the Coast produz tanto o RPG Superior, quanto o Card Game Superior.

De qualquer forma, mesmo sem nunca ter jogado direito, de uns tempos pra cá comecei a assistir bastante streams de campanhas. Principalmente campanhas gringas narradas pelo Koibu e pelo Arcadum (conhecedores conhecerão). Assistir essas campanhas mudou o jeito que crio meus personagens. Se antes eu fazia personagens que refletiam como eu gostaria de ser naquele mundo, agora foco em criar personagens que sejam únicos, engraçados, e que tragam interação divertidas para o grupo.

E numa dessas campanhas que assisti, Broken Bonds, temos Disguised Toast jogando como P'mis (simp ao contrário), um kobold covarde e medroso que sobrevive se oferecendo de lacaio para mulheres fortes que o tratam mal.

Me apaixonei pelo personagem e pela ideia de jogar com algo que não está tentando ser forte, ou corajoso, e nem inteligente, mas sim completamente patético e cheio de desvantagens. Digo, olhem esta fodendo habilidade racial de kobold:

Como uma ação no seu turno, você pode se encolher pateticamente para distrair inimigos dentro de 3 metros ao seu redor e que possam te ver. Até o fim do seu próximo turno, seus aliados tem vantagem em rolagens de ataque contra esses inimigos. 

É hilária! Aliás, alguns dos meus decks de Magic seguem essa mesma ideia. Parece que jogar em desvantagem com algo engraçado e abaixo do padrão desejado é um conceito que me diverte.

Enfim, long story short: Finalmente consegui uma campanha! E o Mestre aceitou que eu jogasse de kobold, que oficialmente não é uma raça jogável. Decidi postar aqui a história que escrevi para ele, pois acho que é um de meus melhores textos: Num curto espaço tem comédia, drama, ação, e violência. Enquanto escrevia eu sorri, senti os olhos ficando pesados com vontade de chorar, senti pena do Jorj, e senti medo dele também.

Me digam se sentem isso também, ou se foi só comigo e tá uma bosta mesmo. kkk

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A História de Jorj

Jorj nasceu em uma ninhada de 14 kobolds, dentro de cavernas em montanhas áridas e de areia vermelha. Passou os 3 primeiros anos de sua vida com eles dentro dos mesmos túneis onde nasceram, sem nunca saírem ou verem a luz do Sol, como é de costume na infância de tais criaturas que vivem no escuro.

Sem sinal de seus pais, que provavelmente encontraram um fim azarado e repentino antes deles chocarem, os 14 kobolds rotineiramente brigavam, como aconteceria com qualquer grupo grande de irmãos. Kobolds são naturalmente covardes e egoístas, mas ainda assim havia uma exceção à regra, que acabou se tornando o líder da ninhada. Obviamente esse não era o Jorj.

Após 3 anos, conforme seus apetites cresceram e não mais se satisfaziam com os insetos e seres menores das cavernas, começaram a sair aos poucos de seus túneis, como ocorre naturalmente na espécie. Nesse primeiro ano fora da caverna, as saídas eram exclusivamente à noite, para caçar.

É aí que a seleção natural começa a agir, e alguns irmãos começam a encontrar seu fim no mundo da superfície. Kobolds não são muito duráveis, muito ao contrário de seus primos distantes, os dragões. Comparar um kobold à um dragão é como comparar um lobo à um pug. Certamente o pug veio dos lobos, mas dizer que são parentes é quase ridículo.

Jorj sobreviveu graças ao seu talento nato em identificar o membro mais forte do grupo e colar na aba dele, usando-o de escudo e aríete, esforçando-se para agradá-lo e nunca desafiá-lo, e viver comendo suas sobras. Conforme aprendiam os perigos do mundo exterior, os 12 membros restantes da ninhada organizaram-se mais e mais como um grupo conciso de criaturas carniceiras e sobreviventes.

Entre o quarto e quinto ano, foram descobrindo que existia todo um mundo e sociedade fora das montanhas, e que pra sorte deles, outras pessoas de outras raças viajavam por esse mundo através de uma estrada que passava por aquelas areias vermelhas ao pé de sua montanha. À noite, saíam dos túneis e atacavam caravanas desavisadas, brigando pelo espólio de comida, equipamentos e curiosos discos dourados que eram carregados aos montes dentro de pequenas sacolas. Agora, o grupo de 10 kobolds já havia tomado a forma de um grupo de bandidos.

No começo do quinto ano, o grupo de 8 kobolds deparou-se com uma armadilha. Ao atacarem uma caravana dando sopa à noite, acabou que tratava-se de um grupo maior e mais sério de bandidos, disfarçados na intenção de atrair os kobolds, matá-los, e ficar com o tesouro que Jorj e seus irmãos haviam acumulado nas cavernas. Esse grupo consistia de uma horda descartável de goblins e hobgoblins, comandados por um pequeno círculo interno de meia dúzia de orcs, humanos e mestiços, liderados pelo autoritário orc Grom, O Terrível.

Os kobolds foram massacrados pela horda de goblins e hobgoblins, mas Jorj conseguiu se esconder entre os corpos de seus irmãos, escapando do massacre inicial graças em parte à sua capacidade furtiva, e em parte à burrice dos agressores. Porém ele não havia escapado ainda, pois logo em seguida os líderes do bando chegaram para saquearem os corpos, e foi quando Jorj foi encontrado fingindo-se de morto.

Enquanto se divertiam cogitando se carne de kobold era comestível, Jorj caiu de joelhos e implorou pela sua vida aos prantos.

“Jorj pode ser útil!” disse ele. “Mais útil vivo do que morto, sim, sim! Jorj pode levá-los até nosso tesouro e dividir com vocês! D-digo, não dividir, Jorj dar TODO tesouro. E-e se pouparem Jorj, Jorj pode trazer muito... Muito mais tesouro! Jorj bonzinho, sabe roubar, Jorj promete ajudar...”

Grom riu alto, e divertiu-se com aquela ínfima e patética criatura implorando para servir os carrascos de sua própria família, e se oferecendo para guiá-los até sua toca do tesouro. Certamente era mais divertido do que um goblin, e pensou “Por que não? Pode ser meu bichinho de estimação.”

Então Jorj foi acorrentado, sendo arrastado pessoalmente pelo Terrível Grom, como se fosse seu cachorro. Guiou-os obedientemente até a caverna, e entregou todos os tesouros que eles e seus irmãos acumularam em 5 anos de vida. Nem ao menos tentou escapar na escuridão dos túneis, como um bom garoto. Após pegarem todo o tesouro, novamente os bandidos divertiram-se com a ideia de matá-lo mesmo assim, ao que Jorj implorou e chorou por sua vida novamente.

Grom manteve-o como seu bichinho, sempre numa coleira de ferro, puxado à correntes, mesmo debaixo da forte luz do Sol que o incomoda tanto. À noite, a corrente era amarrada num poste perto dos cavalos, onde dormia. Durante o jantar, era amarrado ao pé da mesa e sentava no chão, comendo os restos de carne e ossos que caíam dos pratos dos demais, e ocasionalmente Grom oferecia um osso quase sem carne para ele comer.

Era tratado como sendo ainda mais inferior do que os goblins e hobgoblins que os seguiam, constantemente apanhando de seu dono e de todos que sentissem vontade, e quando Grom o deixava amarrado em algum lugar sozinho, era comum alguns goblins irem até ele para atormentá-lo, chamando-o de “cachorrinho do Grom”.

Após um ano inteiro sobrevivendo nessas condições, o líder bandido estava mais do que acostumado à presença de Jorj, e não era incomum ele amarrá-lo dentro de sua própria cabana. Às vezes ele recebia um facão para trabalhar cortando alguma coisa, e às vezes eles o soltavam para que pudesse fazer algo específico, mas sempre de dia, quando ele tem dificuldade de enxergar e não tinha muito como fugir. Certa noite, porém, ele se encontrou dentro da cabana de Grom, amolando uma das adagas de seu mestre (a arma principal do orc era um machado de duas mãos, mas ele também carregava diversas adagas de suporte). Quando Grom, voltando bêbado e irritado de uma comemoração do lado de fora, decepcionou-se com o trabalho ruim de Jorj na lâmina, e começou a chutá-lo e agredí-lo de diversas formas, enquanto o xingava.

Chamou-o de verme e de patético. Disse que a adaga estava cega e chutou-o de novo, chamando-o de inútil.

De inútil.

INÚTIL?!

“COMO ASSIM INÚTIL?” Gritava a mente de Jorj para si mesmo. “JORJ SERVIU, JORJ OBEDECEU O TEMPO TODO! JORJ FEZ DE TUDO PARA SER ÚTIL! JORJ AJUDOU A ROUBAR, JORJ FEZ SUAS TAREFAS, JORJ NUNCA INCOMODOU. JORJ É ÚTIL!!!”

Jorj explodiu e soltou um grito que deve ter sangrado sua própria garganta, e com a adaga que estava afiando ainda em mãos, cortou o calcanhar de Grom. Grom caiu imediatamente de joelhos, ao que Jorj já havia passado por debaixo de sua perna e levantado atrás dele. Grom tentou virar para agarrá-lo, mas estava bêbado e ferido, e tropeçou na corrente de Jorj que estava entre as suas pernas. Ao cair no chão, Jorj apunhalou-o no abdômen, debaixo da armadura que cobria apenas o peito.

“JORJ É ÚTIL!” Gritou, e apunhalou-o novamente.

“JORJ SEMPRE AJUDOU!” E apunhalou-o novamente.

“JORJ SÓ OBEDECEU E FEZ TUDO QUE GROM PEDIU!” E apunhalou-o novamente.

“JORJ FOI BONZINHO, JORJ NUNCA ATRAPALHOU!” E apunhalou-o novamente.

“GROM É INGRATO! INGRATO AO BOM JORJ! NÃO APRECIA O JORJ!” E apunhalou-o novamente.

“JORJ AFIOU A ADAGA DIREITINHO PARA GROM, VEJA, VEJA!” E apunhalou-o novamente.

E denovo, e denovo, até que a barriga do orc era apenas uma papa de sangue, e Grom, O Terrível, morreu assistindo um pequeno e desnutrido kobold em cima dele, furando-o sem parar.

Do lado de fora, o som de festa e comemoração abafou a maior parte do ocorrido. Talvez pudessem ter escutado o explosivo grito inicial de Jorj, mas estavam acostumados à ouvir o kobold gritando quando apanhava. “Grom saiu mais irritado que de costume hoje.” alguém deve pensado. “Não queria estar na pele daquele kobold.”

Jorj, ofegante e exausto, finalmente voltou à si. Olhou para a direção da entrada da cabana, para a adaga ensanguentada em suas mãos, e de volta para o corpo empapado em sangue abaixo de si. Desesperado com a ideia do que aconteceria se alguém entrasse agora e visse aquela situação, pensou em fugir. Repentinamente se levantou, ao que a coleira puxou-o forte pelo pescoço, pois estava presa embaixo do corpo do orc, que havia caído em cima dela. Por sorte, havia coleira o suficiente para que ele tivesse conseguido sentar e realizar todas aquelas apunhaladas, caso contrário as coisas poderiam ter acontecido de forma bem diferente. E por mais sorte ainda, Jorj encontrou a chave da coleira nos bolsos de seu falecido mestre.

Jorj soltou-se, guardou consigo a adaga, e porque não, pegou mais uma. Cobriu-se com um pedaço do cobertor de peles que cortou da cama do orc, e fugiu pelo fundo da cabana noite adentro.

E ele finalmente estava livre. O último de sua ninhada. O único sobrevivente.

“Talvez Jorj realmente não seja inútil.” Pensou consigo mesmo.

Mas agora, com 6 anos de idade, Jorj é um kobold adulto e sozinho pela primeira vez. Sendo de uma raça sociável que só consegue sobreviver graças à força dos números, Jorj sabe que não irá durar muito sozinho sem alguém maior protegendo ele, como sempre foi.

Ele precisará buscar um novo bando, com alguém forte e que aceite-o como capacho, para que possa continuar vivendo de suas sobras.

Mas para o bem dessa pessoa, é bom que trate Jorj como o bom garoto que ele é.

Que reconheça que Jorj é útil.


"Jorj só quer agradar..."

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Espero que tenham gostado e deixem seus comentários para o pequeno Jorj! :)