Esses dias estava pensando em como fazem 20 anos que eu jogo Magic: The Gathering.
"Como foi que você conheceu Magic? Quando você começou a jogar? Qual foi o seu primeiro deck? Você lembra qual foi a sua primeira carta?", perguntas assim surgem o tempo todo.
Depois de tomar meu tempo respondendo longamente à essas perguntas em conversas pessoais ou publicações em redes sociales em mais de uma ocasião, decidi que iria postar a história completa e detalhadamente aqui. Apenas porque eu praticamente já fiz isso no Tuíter/Xis e o texto tá quase pronto na minha cabeça, então vamos lá.
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O Primeiro Contato com a Magia
O ano era 2003, na primeira metade, então eu ainda tinha 10 anos e estava na 5ª série (época na qual eu conheci meu bom amigo Queijinho, quando mudei do período da tarde para o período da manhã). Nessa época eu ainda morava em São Caetano, na casa da minha vó. Éramos eu, meus pais, meus avós maternos, e meu tio e tia (irmãos mais novos da minha mãe). A pessoa mais próxima de mim na casa, desde o falecimento da minha bisavó dois anos antes, era a minha tia Daniela, que na época tinha cerca de 26/27 anos. Ela compartilhava comigo das coisas que eu gostava durante a infância, como desenhar, assistir Pokémon e jogar videojogos no aparelho computadorizado dela. Ela foi a primeira pessoa que conheci a ter um computador, e foi nesse computador que alguns anos antes eu havia jogado meu primeiro videojogo: Pokémon Blue, emulado em um disquete. (vish)
Enfim, nessa época minha tia apareceu com um namorado novo, um cara gaúcho, nerd e alguns anos mais novo do que ela. Acho que o nome dele era Márcio. Foi uma grande melhoria depois do último namorado dela, um tal de Jonas, que era doente a ponto de ter ciúmes dela passar tempo comigo. Eu poderia já ser chamado de nerd na escola, mas eu ainda não sabia o que realmente era o mundo nerd mais clássico, e sua profundidade. Nas visitas desse Márcio à nossa casa, ele sempre trazia coisas nerds para compartilhar comigo e com a minha tia, e elas sempre me pareciam fantásticas e interessantes. Lembro que ele trazia coisas como miniaturas de RPG de mesa, Playstation com jogos e etc. Curiosamente, pensando agora, a primeira vez que joguei Tenchu 2, um jogo que até hoje está entre os meus favoritos de todos tempos, foi ele quem trouxe, antes de eu ter o meu próprio Playstation.
Até que uma vez ele trouxe uma caixinha de plástico com suas cartas/decks de Magic dentro. Lembro que senti um certo "misticismo" ao redor do jogo, por causa de sua
arte traseira e estética parecerem muito mais "sérios" do que as artes de outros cardgames que eu conhecia, como Pokémon, Digimon e até mesmo Yu-Gi-Oh. Cartas como
Poder de Gaia pareciam ter uma arte muito mais "crua" e realista, quase como se fossem pinturas e falassem sobre magia DE VERDADE, algo que meus avós religiosos não iriam gostar. Não sei se foi nesse mesmo dia, mas certa vez nós 3 (eu, minha tia, e o namorado dela) pegamos um ônibus até São Paulo e fomos na clássica Livraria Devir, onde estava tendo uma Friday Night Magic, ou como ele dizia, uma "Magic Night".
Fiquei deslumbrado vendo os expositores com mapas/dioramas de RPG, cheios de miniaturas fantásticas de cavaleiros e magos, e outras coisas que estavam à venda. Tanto que quase não prestei atenção ao pessoal nas mesas jogando cardgames, e não lembro muito do que fizemos por lá. Enfim, quando voltamos para casa, eu estava vendo as cartas dele e, não lembro se eu pedi por isso ou se foi algo espontâneo dele, mas ele me deu uma de suas cópias de um Fractius de Couraça.
"Superar a extinção só fez os fractius tornarem-se mais determinados a viver." Esse flavour text e a estranha criatura completamente original desse jogo me deixaram fascinado e me perguntando
"O que são fractius? Qual a história por trás dessa extinção?", eu ficava criando as respostas na minha cabeça, imaginando em que tipo de mundo eles viviam. Mas não seria até o ano seguinte, em 2004, que eu encontraria esse jogo novamente e finalmente começaria a jogar.
O Meu Primeiro Grimório
Pois vejam bem, não só a minha tia e esse cara acabaram terminando, como na minha escola, naquela época, ninguém jogava Magic: The Gathering. Todo mundo só jogava Pokémon TCG, e eu mal sabia da existência de lojas de cardgames, exceto aquela em São Paulo que visitamos, mas ela ficava em outra cidade, o que pra mim era a mesma coisa que outro mundo. Conforme o tempo passou, eu guardei aquele Fractius de Couraça entre minhas poucas cartas de Pokémon e Yu-Gi-Oh e acabei esquecendo do joguinho por um tempo.
No meio de 2003 eu e meus pais nos mudamos da casa da minha vó, e fomos de São Caetano para Santo André, morar num apartamento de condomínio, a primeira casa própria dos meus pais que não era de aluguel. Nesse ano o condomínio ainda estava em construção, e não tinha muito espaço para conhecer outras crianças, além de que eu continuei indo para a minha antiga escola em São Caetano de van até finalizar o ano. Foi em 2004 (6ª Série) que eu mudei de escola para uma mais próxima que havia acabado de inaugurar a apenas dois quarteirões de casa, e conheci pessoas novas tanto na escola quanto no condomínio. E adivinhem só? Algumas dessas pessoas começavam a jogar Magic, é claro!
A primeira outra criança que conheci que jogava Magic foi no condomínio, um coleguinha chamado Felipe, apelido "Brasileiro"
(pois a primeira vez que ele apareceu lá, estava com uma camiseta do Brasil. É, posso dizer que os apelidos que davam nesse condomínio eram um pior do que o outro). Enfim, ele havia começado com um deck de artefatos de modular lançado em Darksteel, coleção de Fevereiro de 2004, mas já havia conseguido adicionar duas cópias do
Colosso de Aço Negro no deck, entre outras coisas. Sim, era brutal demais.
Mas agora eu conhecia outra pessoa da minha idade com quem jogar, e literalmente na próxima vez em que fui num Shopping com a minha mãe (o que era algo que estava começando a se normalizar, antes de mudarmos de cidade, ir em Shoppings era algo que aconteceu tipo 3 ou 4 vezes na minha vida), mais especificamente o Grand Plaza Shopping (naquela época Shopping ABC Plaza), eu convenci ela a comprar para mim um dos decks disponíveis numa loja de brinquedos genérica.
Não lembro exatamente quando foi, até porque Mirrodin era um set mais antigo, do fim de 2003, mas eu encontrei ainda disponível o deck básico verde "
Malévolos e Monstruosos". Vou assumir que ainda fosse a primeira metade de 2004, então eu tinha apenas 11 anos quando comecei, oficialmente, a jogar Magic. O deck era basicamente apenas bichões, ramp e remoções de artefato, o que parecia perfeito contra o deck de artefatos que havia visto meu colega usar, exceto pelos Colossos indestrutíveis. Embora a estrela do deck supostamente fosse o
Trolls de Tel-Jilad (que já não era nada mal, ainda mais na época), eu me apeguei bem mais à cartas mais agressivas como o
Vorme Escoriáceo de Placas,
Enxame Vivo e, principalmente,
Unhas e Dentes (carta que ainda é uma bomba até hoje, e permanece na minha versão atual desse deck). A receita foi um sucesso, e na primeira vez que usei o deck, já consegui derrotar o tal deck de artefatos, pois mesmo que ele tenha finalmente descido o Colosso de Aço Negro no fim da partida, ele só podia utilizá-lo para bloquear um dos meus muito bichões. Finalmente, eu estava provando o meu primeiro gosto da "magia" em ação.
No entanto, ainda não tinha muitas outras pessoas com quem jogar além dele, e ele em si não era uma companhia muito agradável, então o deck acabou ficando de lado por algum tempo. Foi mais para o final do ano, em Outubro de 2004, que outras pessoas, tanto da escola nova quanto do condomínio, começaram a jogar também. A coleção que estava em lançamento era Campeões de Kamigawa, e ver as cartas desse set com temática japonesa me deixou novamente maravilhado pelo jogo, especialmente numa época em que Naruto (baixado na internet em japonês legendado, ainda muito longe de ser lançado na tv) e eventos de anime estavam começando a ser uma coisa. Uma das cartas que eu lembro que mais me chamou a atenção foi o Kirin Generoso, que um amigo da escola, Luiz, mostrou para mim.
Mais uma vez o jogo brincava com a minha imaginação, me mostrando outro tipo de criatura fantástica que eu nunca tinha ouvido falar antes! "O que é um kirin? Onde eles jabutam?" (habitam*) Eu ficava me perguntando... Mas infelizmente eu não poderia pedir outra coisa para os meus pais tão cedo, e tive que deixar essa coleção passar, jogando apenas às vezes com meu deckinho monoverde de bichão, apreciando as cartas dos meus colegas.
Experimentando Novas Águas
Foi uma época estranha pois, de certa forma, eu era um "estranho no ninho", em meio à colegas de uma classe social um pouco mais alta, acostumados a receber coisas de seus pais o tempo todo, enquanto a minha família, até então, não era bem assim... Não éramos pobres, mas também não éramos ricos, e eu não podia pedir por coisas fora do meu aniversário ou do Natal. Quer dizer, às vezes rolava, mas foi só no meio do ano seguinte que pude continuar com meus primeiros passos no joguinho, adquirindo um segundo deck pré-construído, novamente naquela loja genérica de brinquedos no Grand Plaza:
Infelizmente já não tinham mais decks de Kamigawa disponíveis, então o deck que mais me chamou a atenção foi esse deck básico azul da 9ª Edição: "
Alturas Majestosas". Tendo sido lançado em Julho de 2005, eu já tinha então 13 anos e estava na 7ª Série. O deck consistia basicamente de criaturas com voar, cartas de comprar carta, e cartas de anula. A estrela do deck era o
Gênio Mahamoti, mas a minha carta favorita, apenas por causa da arte, era o
Dragonete Lazur.
No entanto, a minha mente ligeiramente retardada de criança mais infantil do que o normal não era capaz de compreender coisas como "tempo de jogo" e "card advantage". Na verdade, eu nem mesmo entendia como "anular" funcionava, e sem conhecer as regras do jogo direito, "anule a mágica alvo" para mim parecia algo que funcionava apenas contra mágicas instantâneas. E isso que tinham cartas que diziam "anule a mágica de criatura alvo". Não preciso dizer que eu não ganhei nenhum jogo com esse deck, e fui ficando extremamente desapontado...
Mas meus amigos, do prédio e da escola, continuavam jogando. E em Outubro do mesmo ano lançou a nova coleção Ravnica: Cidade das Guildas, e todos pareciam muito animados. Um set novo, num mundo novo, um mundo completamente coberto por uma vasta metrópole. Guildas, intrigas e decks de duas cores! Não que não existissem decks de duas cores antes, mas foi também quando introduziram o símbolo de mana híbrido, com cartas multicoloridas que, em vez de apresentarem a frame dourada de costume, eram
meio-a-meio! Tudo parecia muito interessante, então lá fui eu na minha mãe novamente, pedindo para comprar um deck novo, para que eu não perdesse a hype da coleção nova como foi com Kamigawa no ano anterior...
As guildas introduzidas nessa coleção foram os Boros, Golgari, Selesnya e Dimir, e o deck que eu acabei escolhendo foi o "
Intrigas Dimir", afinal era o único deck com azul nessa coleção, e eu pensava em juntá-lo com meu deck azul para tentar melhorá-lo. A estratégia do deck novamente era um pouco "avançada demais" para mim, focado em criaturas difíceis de bloquear e cartas de remoção, com a possibilidade de millar o oponente em um uma partida longa. Céus, talvez fosse até pior do que o deck básico azul que havia adquirido anteriormente, eu não via muitas condições de vitória nesse deck... A estrela do deck era
Szadek, Senhor dos Segredos, uma criatura extremamente pesada e relativamente fraca, se formos pensar que já existiam cartas como o próprio
Colosso de Aço Negro mencionado anteriormente.
Acho que só ganhei com esse deck uma vez, com o Szadek simultaneamente millando/matando meu adversário. Foi bem legal, afinal o Szadek PARECIA maneiro e queria vê-lo funcionando, mas até onde me lembre só aconteceu uma vez, e depois eu nunca mais consegui ficar vivo até conseguir baixá-lo. A frustração com o azul/Dimir continuou crescendo, até que, seguindo a dica do meu amigo Luiz, eu abandonei essa ideia de jogar com decks mais "avançados" e retornei para o confiável monoverde stompy onde comecei minha jornada, trocando com ele quase todas as minhas cartas azuis e pretas por cartas verdes e o artefato
Cubo Duplicador para colocar naquele deck
(que na época achávamos que gerava mana permanentemente, acumulando entre os turnos, e anotávamos a reserva de mana num papel ao lado kkk).
Foi por volta dessa época que eu tentei introduzir Magic para o meu amigo Queijinho, tentando convencê-lo a jogar comigo, mas infelizmente ele não estava muito interessado (ainda). De qualquer maneira, a partir de então, os meus conhecimentos sobre o jogo e sobre deckbuilding, felizmente, só iriam melhor...
Retorno às Raízes e Dominando os Elementos
Falando em melhorar o meu conhecimento sobre o jogo, eu também precisava melhorar o meu conhecimento escolar, afinal foi em 2005 quando eu repeti de ano e troquei de escola pela segunda vez. Foi nesse período de 7ª Série (a reprise), em 2006, que eu conheci o Giovani, um novo amigo que não só jogava Magic (de monoazul anula como um bom fdp), como ele me ensinou, da pior maneira possível, que anulas funcionavam contra qualquer carta do jogo, afinal, todas as cartas que não são terrenos em Magic são... Mágicas! Quem diria? Eu não diria, porque ele teve que imprimir umas 20 folhas com todas as regras do jogo e trazer para a escola no dia seguinte pra me convencer, o que não só eu levei para casa e li tudo, como guardei aquela papelada toda dentro da minha pasta por muitos anos, até as folhas começarem a amarelar e rasgar, e algumas regras terem mudado com o passar do tempo.
E não era só ele que jogava, como uns outros três ou quatro dos meus novos colegas de classe também, e agora eu estava jogando mesões de quatro ou mais pessoas tanto na escola quanto no meu condomínio! E em Outubro desse mesmo ano sairia uma coleção nova, Espiral Temporal, trazendo cartas do passado de Magic que também eram, de certa forma, do meu passado...
Espiral Temporal voltava para o plano/mundo original de Magic, Dominaria, após 3 longos anos apresentando novos planos. Dominaria era um mundo com o qual eu não havia tido quase nenhum contato até então, pois havia começado a jogar nos primeiros planos "novos" apresentados em Mirrodin, Kamigawa e Ravnica. Digo "quase" pois uma das criaturas originais que habitam Dominaria são justamente os fractius, tal qual o Fractius de Couraça, aquela que havia sido a minha primeira carta, que por tanto tempo havia me encantado quando eu era (mais) novo...
Então quando fiquei sabendo que um dos decks pré-construídos dessa coleção era o deck "
Evolução dos Fractius", fiz a minha primeira compra proposital/planejada de Magic, indo sozinho com o dinheiro que havia pedido aos meus pais até o antigo Mapping/Shopping ABC, onde havia uma loja de jogos logo na entrada. E felizmente lá estava ele, na vitrine, me aguardando! Era um deck de 3 cores, vermelho, verde e branco, sem nenhuma carta lendária ou que fosse necessariamente a estrela do deck. A carta frontal era o
Fractius da Fúria, mas a força do deck estava justamente na força compartilhada tão característica dos fractius. Era um deck rápido, agressivo e praticamente todo de criaturas, com literalmente apenas uma outra mágica para remoção e outra para proteção. Eu removi elas. O deck não precisava lidar com a estratégia dos meus oponentes, você apenas descia fractius atrás de fractius, todo turno, deixando-os cada vez mais fortes.
Esse foi o primeiro deck que eu tive que considerei realmente forte, eu pegava ele e já esperava vencer. Nenhum dos meus amigos jogava Magic competitivo, mas não é como se um deck pré-construído fosse apelação de minha parte. Mas também não demorou para que o deck deixasse de ser "pré-construído" e eu começasse a modificá-lo. Quando meu amigo Giovani ficou sabendo o quanto eu gostava dessas criaturas e que agora tinha um deck deles, ele me contou que tinha na pasta dele um fractius mais antigo, lá daquela época do Fractius de Couraça, e que ele trocaria comigo por algumas cartas azuis legais que eu tinha... E foi assim que eu consegui pôr as mãos na minha cópia do
Senhor dos Fractius, passando em troca, entre outras cartas, um
Dia dos Dragões que ele usaria como finisher no deck azul de magos dele.
Com o advento do Senhor dos Fractius meu deck passou a ser de 5 cores, o que não era problema nenhum uma vez que ele já vinha com 4 cópias do
Fractius Pele Preciosa para gerar mana. E assim eu comecei a colecionar mais fractius antigos, adicionando eles ao meu deck sempre que fosse vantajoso. Um dos primeiros que adicionei além do Senhor dos Fractius foi, obviamente, o
Rizo-Fractius, justamente para lidar com a absurda quantidade de anulas no deck do Giovani. Pode-se dizer que eu estava "retornando às raízes", se é que me entendem...
(rizo são... raízes, aham aham?)
Enfim, quase um ano depois, lá para a segunda metade de 2007, foi a vez de lançarem uma nova coleção: Lorwyn, um mundo de contos de fada onde, curiosamente, pela primeira vez não existiam humanos. Também foi quando introduziram planinautas/planeswalkers, apresentando personagens como Chandra, Jace e Liliana pela primeira vez. Não vou me estender muito dizendo sobre como esse plano é maravilhoso, as artes das criaturas e terrenos são lindas, etc, etc. Novamente, fiquei maravilhado com o jogo. E foi numa outra visita ao Shopping ABC que encontrei, na vitrine daquela mesma loja, o último deck pré-construído que eu comprei por muito tempo, que me encantou logo de cara:
Lorwyn podia não ter humanos, mas tinha elfos, goblins, sirenídeos
(sereias), gigantes, kithkins
(hobbits sem marca registrada), ents e... Flamíneos. O deck de 5 cores "
Caminho Elemental" trazia essa raça completamente nova e original, um povo de humanoides elementais de fogo que cultuam e adoram outros elementais maiores de todas as cores e tipos. Mais uma vez para mim, era um deck tribal de 5 cores, com praticamente nenhuma carta que não fossem criaturas, mas ainda assim a forma como ele jogava era completamente diferente dos fractius. A carta frontal era o
Carvalma Incandescente, que representa os flamíneos e a porção vermelha majoritária do deck, com sua habilidade sinergizando perfeitamente com a ideia do deck: Conjurar elementais momentaneamente, cada um com um efeito ao entrar em jogo completamente diferente para cada situação, para depois conjurá-los novamente do cemitério usando a verdadeira estrela do deck: a
Horda de Noções, que representa um "estouro de manada" com múltiplos dos elementais maiores que os flamíneos cultuam.
Foi assim que passei a 7ª e 8ª série, jogando na escola e em casa com 3 decks diferentes. Bons tempos de jogar cartas que hoje são valiosíssimas sem shield e sem playmat, virando elas no concreto até começarem a perder a tinta... :'D Então nessa época eu já era o "cara dos fractius", ou o "cara dos tribais de 5 cores", e hoje em dia, ambos esses decks estão adaptados para o Commander, com o Senhor dos Fractius e a Horda de Noções sendo dois dos meus decks favoritos. 💓
Um Breve Hiato, e Um Retorno Intenso
Eu teria parado de jogar Magic no Ensino Médio, se não fosse por uma reviravolta maluca. Conforme eu lentamente parei de andar com os colegas do meu condomínio devido a serem todos filhos da puta, e conforme também fui perdendo boa parte do contato com meus amigos da escola quando eles trocaram de sala para o 1º ano do Ensino Médio em 2008, eu não tinha praticamente mais nenhum amigo nerd na vida escolar ou perto de casa, então eu já não tinha mais com quem jogar Magic... Devido a esse recente isolamento e o advento das redes sociales, além de já ter 15/16 anos, idade em que comecei a andar sozinho de ônibus e trem, eu reforcei meu contato com o Queijinho e outros amigos que havia deixado em São Caetano do Sul, minha cidade natal. No começo do Médio o Queijinho conheceu o Capelo na escola dele (funny enough, o Qjn também havia repetido um ano, então estávamos sincronizados novamente no Ensino Médio), e, junto com o Pato, um amigo que conhecia desde a 1ª Série (mas que eu havia me separado dele na 5ª Série quando eu mudei para o período da manhã) nós formamos um círculo de amizade muito especial. Na maioria das vezes saíamos apenas eu, Queijinho e Capelo, sem o Pato, e lembro de ter falado novamente para os dois jogarem Magic também, mas sem sucesso...
E por isso foi bem engraçado quando descobri, no meio de um evento de anime, que o Pato jogava Magic desde 2002/2003, tendo começado antes de mim, logo quando nos separamos de sala, sem eu nunca ter ficado sabendo. Nós estávamos em um dos saudosos AnimABC em meados de 2008 quando eu vi um representante da antiga loja Comix vendendo cartas de uma pasta, e decidi parar para procurar por fractius nelas e encontrei um
Fractius de Magma todo arrebentado por apenas 2 reais. O Pato também estava nesse evento, e quando ficou sabendo que eu havia parado para comprar uma carta, me mostrou que carregava consigo uma bolsa transparente cheia de decks e cartas, a maioria de Kamigawa, que ficou me mostrando. O mais louco é que tenho uma foto disso!
Pato de Near e eu de Edward Elric de touquinha do Pyong, essa foi definitivamente uma época que existiu. -q
Porém eu não estava com meus decks, afinal fazia algum tempo que eu não jogava e não esperava encontrar ninguém jogando, e nós também não marcamos para jogar depois disso, então o hiato pôde perdurar mais um pouco...
Seria somente em meados de 2009, no 2º ano do Médio, que o Capelo um dia começou a jogar Magic também. Certa vez, antes de irmos todos passar um fim de semana na casa do Pato, o Capelo me solta um "Cara, sabe Magic, o jogo de cartas? Você joga, né? Traz no Pato pra gente jogar."
Minha reação foi tipo: "Sim, eu sei sobre a magia antiga, pois eu estava lá quando ela foi escrita..."
Não, mentira, foi mais tipo:
"Sim, eu sei. Ok, eu levo." Enfim, foi aí que eu voltei a jogar Magic e nunca mais parei. Mas dessa vez, estava jogando com amigos muito mais preciosos, e os mesões eram muito mais divertidos. O deck de elementais pode ter sido o último precon que eu comprei (até a chegada dos precons de Commander na vida adulta, usando o meu próprio dinheiro), mas a partir daqui eu comecei a construir meus decks do zero, seja comprando as cartas individualmente ou participando de eventos de pre-release, tendo começado a frequentar lojas de cardgame como a antiga Comix em São Caetano, que hoje vai por outro nome, ou a CHQ em Santo André, que era enorme e hoje em dia quase não existe mais.
E depois, em 2010, o Queijinho também começou a jogar. E depois, em 2011, TODOS os nossos amigos estavam jogando, e muita coisa aconteceu.
Varávamos noites nas casas de amigos jogando Magic. Eu comecei a faculdade, e conheci
alunos e professores que jogavam lá também. Introduzi pessoas a começarem a jogar por todo canto que eu passei. Ganhei de presente uma fodendo
Fractius Rainha pra completar a minha coleção, que é até hoje o meu card mais raro e mais valioso. Nós criamos praticamente um
clubinho de Magic em São Caetano que jogava numa sorveteria, cujos donos eram irmãos e também jogavam conosco. Tínhamos nosso
próprio evento de pre-release na Comix, fechado só para a gente. Migramos lentamente para o Commander, quando o formato tinha acabado de ter esse nome oficializado. Pessoas do interior de SP literalmente alugaram um ônibus em DUAS OCASIÕES para virem
jogar Commander conosco na sorveteria. Joguei Magic na rua, e no trem. Joguei Magic em hotel, motel e hostel. Joguei Magic
no Natal. Eu e o Queijinho jogamos Magic
VOANDO NUM AVIÃO quando fomos visitar amigas da internet em Porto Alegre/RS. Ganhei torneios, eventos e mesões obscenamente grandes. Durante a pandemia, joguei Magic
virtualmente. Fiz amigos em lugares novos, no trabalho e no swordplay
(que é toda uma outra parte enorme da minha vida há 12 anos... talvez eu faça um post parecido quando completar 20, hehe), por causa desse jogo. Reatei contato com pessoas com quem não falava há mais de 10 anos, só por causa desse jogo. Enfim, vocês pegaram a ideia.
(peço desculpas se por acaso alguém que não me tem no facebook estiver lendo isso, todos os links desse parágrafo levam para minha conta e ela é privada rs)
Nos meus primeiros 9 anos de Magic, montei cerca de uns dez decks casuais de Magic tradicional, sem nenhum formato específico, só para depois migrar, inicialmente a contragosto, para o Commander. Comecei com a
Bruna, Luz do Bando Alabastro como meu primeiro comandante em 2012, e nos 11 anos que se passaram, fiz facilmente 20 ou mais outros decks. E isso que foi a contragosto, hein? Quem diria...
Conclusão
Fiquei bem contente em ter decidido colocar todo esse texto no papel. Conforme ia escrevendo, percebi que haviam muitos detalhes obscuros na minha memória, especialmente datas e anos, que eu precisava esclarecer para mim mesmo, e é bom ter registrado tudo isso aqui. Por muito tempo, eu achava que meu primeiro deck havia sido o monoazul Alturas Majestosas, e que depois havia trocado ele e o Dimir pelo monoverde de Mirrodin, o que não faz muito sentido, considerando que o azul saiu em 2005, e o verde em 2003. Foi necessária muita reflexão e consultoria com meus pais e amigos para esclarecer a ordem de certas coisas, e entender a ordem dos fatores que apresentei aqui. O motivo de eu achar que tinha ido do azul pro verde foi porque depois de desistir do azul eu VOLTEI pro verde, que eu havia adquirido em 2004, não em 2003 quando lançou.
Mas enfim, o real motivo MESMO de ter ficado bem contente com esse texto foi relembrar a jornada toda, e perceber como, de certa forma, a minha história de 20 anos com Magic: The Gathering não é necessariamente sobre o jogo em si, mas sim sobre os amigos com quem dividi esse hobby, essa jornada, esses VINTE anos. É muito tempo. Loucura.
É literalmente o "Gathering", a reunião de pessoas, que faz a Magia acontecer. :)
Como dizemos por aqui...