Olá, meu
(inha) caro
(a) leitor
(a) imaginário
(a) que não desiste nunca!
Desculpe pela estiagem de postagens, mas é que o conteúdo desse blog vem direto do Sistema Cantareira. Porém, essa ideia de racionamento de posts é desnecessária, e prometo que se eu for reeleito, nunca ficaremos sem conteúdo! Ah, e meu nome não é Geraldo.
Piadas à parte, decidi compartilhar aqui com vocês esse pesadelo que tive mês passado. Não sei se, lendo, ele parece assustador. Mas estava cercado por aquele
creepy-feeling de sonhos onde você se sente observado e perseguido.
Começou como todo bom sonho: Já estávamos no local, sabendo os motivos para estarmos no local, porém sem explicações de como chegamos no local, ou de onde viemos.
Nós
(caso já esteja se questionando) éramos eu
(supimpa como sempre) e a Stéffie.
O local era um edifício velho e abandonado.
O excelente motivo para estarmos num lugar tão clichê desses era que a Sté alegava ter morado num apartamento daquele edifício por anos, e o prédio estava para ser demolido. Ela queria ter a oportunidade de reviver suas memórias naquele lugar, despedir-se... E, claro, tinha medo de invadir o local sozinha. Justo.
Pulamos uma grade de ferro e entramos na propriedade. O local todo era bem cercado de outros edifícios, como num bairro de cidade grande, mas essa grade dava acesso à um beco que levava entre eles até a entrada do prédio em questão. O beco também estava visualmente abandonado, com o chão esburacado e rachado, e grama crescendo entre as rachaduras. O aspecto exterior do edifício era todo de concreto, cru, velho e sem pintar.
Uma vez lá dentro, nós dois subimos por uma escadaria apertada e claustrofóbica até o andar em que ela morou, próximo ao topo
(deviam ter no máximo 10 andares, o dela sendo o antepenúltimo). No entanto, o que deveria ser um prédio de apartamentos parecia mais ser um edifício comercial, de escritórios. Saindo da escadaria, o ambiente interno era bem vasto, aberto, claro e iluminado, com as paredes exteriores todas abertas pro céu lá fora, onde antes eram grandes janelas. As paredes dos cômodos e apartamentos mais pareciam divisórias, com bastante aberturas, onde antes haviam portas e janelas de vidro fosco. O chão era de madeira bem clara e laminada, as inúmeras paredes e divisórias eram beges, marrom claro ou marfim, e o teto e algumas colunas eram brancos. Realmente, tudo muito claro e iluminado. Definitivamente não seria um local aterrorizante.
Porém, era. Aquele andar era aberto demais, vazio demais, claro demais. Todo o resto de mobília que ainda estava ali encontrava-se coberto em grandes plásticos empoeirados, que junto com as cores claras e suaves, refletia o Sol opaco e acizentado lá de fora de uma forma quase... Mórbida. A poeira no ar também refletia essa luz, fazendo parecer haver uma certa névoa esbranquiçada dançando ao nosso redor.
E mais. Tinha essa sensação de pesadelo. Eu sabia, com certeza, que havia alguém
(ou algo) ali. Podia imaginar perfeitamente uma forma humana magra, nua e retorcida, arrastando-se e contorcendo-se sob o chão, ou sobre o teto. Mas a Sté não parecia se importar, estava completamente em modo
NPC-de-sonho, andando pra lá e pra cá, falando sobre as coisas sem me escutar. Segui ela por um tour completo no que era seu apartamento de divisórias de madeira. Lembro-me que, num dado momento, ela havia me levado para ver o estranho banheiro de divisórias. Eu entrei no box do chuveiro para ver como era aquilo... E quando saí, por alguns segundos, ela sumiu. Me senti sozinho e abandonado, perdido no local. Apenas alguns segundos até ela aparecer de novo e continuar seu tour. Porém o suficiente para ter me deixado bastante assustado.
Enfim começou a escurecer, e o ambiente todo tomava uma cor alaranjada, ofuscante e alarmante. Eu sabia que definitivamente não iria querer estar ali quando essa luz acabasse. Caminhar até a porta da escadaria claustrofóbica no interior do andar passou-me uma grande inquietação, como se não devesse entrar ali outra vez... Mas quanto antes saíssemos, melhor. No entanto, antes de descermos os primeiros degraus, a Sté surgiu com uma
"maravilhosa" ideia romântica: Assistirmos ao pôr-do-sol na cobertura, e depois observarmos as estrelas como ela se lembrava de ter feito durante o tempo em que morou ali. À essa altura, o modo NPC dela só havia piorado, e foi logo subindo as escadas entusiasmada sem ao menos dar atenção às minhas reclamações.
Segui-a até o final da escadaria, que dava para uma cobertura sem parapeito nenhum, toda de concreto e cimento áspero, cinza e velho, desses que não são confortáveis de sequer apoiar a mão, quando mais deitar-se para observar as estrelas. Sentamos na borda e observamos o Sol se pôr entre os edifícios ao redor... E conforme escureceu, deitamos lado-a-lado para observar o céu.
Não sei quanto tempo passou, afinal, a Sté-NPC passou horas e horas segurando minha mão e falando sobre o universo e as constelações... Até que alguma coisa no meu campo de visão chamou minha atenção. Levantei-me de súbito, sentando no chão, para ver o que parecia ser uma criança de pé, na borda da cobertura, de costas pra gente. O que mais me incomodou era que estávamos deitados antes tipo com o pé tocando a borda, então essa criança já estava praticamente do nosso lado... Eu devia ter reparado nela quando saiu da escadaria às nossas costas e passou pela gente até chegar ali. Então, ela se inclinou pra frente, e mais uma vez eu levantei de súbito, dessa vez ficando de pé e esticando minha mão até ela, porém já era tarde demais. A criança se jogou do topo do prédio.
Quando eu parei na borda e olhei para baixo... Estava bem escuro no beco, porém não ouvi nenhum barulho de queda, e não enxerguei nenhum corpo. Quando me virei para trás, para a Stéffie... Cadê? Olhei ao redor, e não havia mais ninguém.
Aquela sensação de perigo e desconforto voltou drasticamente, estando agora no topo de um edifício escuro e completamente sozinho. Quando olhei na direção da porta da escadaria, no meio da cobertura... Tive um calafrio horrível. Eu deveria descer por dentro do prédio e ir embora, mas e o cagaço? Não, era mais que cagaço, eu tinha certeza absoluta que entrar ali era a última coisa que eu deveria fazer.
Considerei, então, passar a noite toda ali. Esperar clarear. Não sabia que horas eram, mas por bastante tempo, mantive essa ideia. Passeei um pouco pela cobertura, dando a volta... Até que finalmente reparei numa escadaria de incêndio, daquelas de ferro no melhor estilo americano na lateral do prédio. Dava direto pro beco abandonado lá embaixo. Considerei-me salvo, pois agora podia descer sem passar pelo lado de dentro.
Conforme descia os lances de escada, que rangiam, enferrujados, eu passava ao lado das janelas de cada andar. Eu havia me esquecido delas. Aquelas janelas grandes, do tamanho de uma porta. Abertas, sem vidro. Cada uma delas dava uma visão mais perturbadora do lado de dentro do edifício, escuro, amplo e vazio. Sempre que passava por uma, a cada andar, sentia-me terrivelmente vulnerável. De repente, estar fazendo aquilo parecia uma péssima ideia. Mas já estava quase na metade, só podia continuar descendo.
Porém, mesmo evitando olhar pelos andares que eu passava, fui reparando em algo... Na quinta janela, me senti observado de longe. Na sexta janela, sem ter muita certeza, pensei que poderia haver alguém bem lá ao fundo do andar, nas sombras. Na sétima janela, pensei ter visto o vulto de alguém, no meio do andar, de pé. Na oitava janela, o vulto estava mais próximo da janela. Comecei a descer as escadas restantes correndo desesperadamente, pulando completamente cada lance de escada, fazendo tudo balançar e ranger, sem nem mais olhar para o lado.
E então foi tudo muito rápido. Cheguei ao final da escadaria de incêndio, que ainda era um andar mais alto que o nível do chão. Normalmente haveria uma escada vertical para se soltar, mas eu nem pensei nisso e nem sei se estava ali ou se estava quebrada, eu só ia pular. Mas não pulei direto, eu virei de costas e me preparei pra me pôr pra fora da escada e me soltar. Ou seja, virei de frente pra parede, onde havia uma janela bem aberta.
Eu já estava me abaixando, e assim que virei de frente pra parede, me encontrei cara-a-cara com a Sté. Pálida. Mórbida. Creepy. Olhos vazios e negros. Boca aberta e gritando. Pulando de dentro do prédio, tentando segurar minhas mãos. Me desvencilhei, soltei as mãos e caí no beco.
E foi nessa hora que eu acordei. Definitivamente não voltei a dormir naquele dia.
Vale pensar que, se ela foi pega, foi pega em algum momento em que estávamos lá dentro...
Provavelmente, naquele momento em que ela sumiu enquanto eu olhava o chuveiro...
O que significa que não era mais ela que estava comigo na cobertura...